Paleontologia e Paleoambiente
O Parque Natural Marinho do Algarve - Pedra do Valado, como lhe chamam os pescadores, insere-se na área marinha da costa do Geoparque Algarvensis e trata-se de umas das zonas mais ricas em biodiversidade marinha do país e o maior recife costeiro do Algarve e dos maiores de Portugal.
A Pedra do Valado é um corpo morfossedimentar ancorado no Cabo Carvoeiro e que se estende aproximadamente paralelo à linha de costa ao longo da Baía de Armação de Pêra até à Praia da Galé. Esta é um banco de areia submerso, com profundidade entre os 14 e os 25 m, com orientação NW-SE, a aproximadamente 4 km da costa. É formada por calcarenito de grão médio, com cimento carbonatado, cobrindo uma área de 63,4 km². Entre este banco de areia consolidado e a linha de costa, o fundo marinho é lodoso, com uma área de aproximadamente 31,1 km².
A origem e desenvolvimento da Pedra do Valado está associada a um tempo em que o nível médio do mar estava mais baixo, consequência de um período glaciar do Pleistocénico (2,6 milhões de anos a 12000 anos). Durante esta fase ter-se-á formado uma restinga, que depois deu origem à Pedra do Valado, pela acumulação de areia transportada ao longo da costa pela corrente deriva litoral. Quando a velocidade da corrente diminui, a areia depositou-se formando um longo cordão litoral atrás do qual existia uma zona intermareal onde se acumularam sedimentos finos, silts e argilas. Uma importante fonte de sedimentos para esta restinga (Pedra do Valado), terá sido os sedimentos transportados pelo Rio Arade, cuja foz se situa a oeste do Cabo Carvoeiro.
As datação por radiocarbono calcarenito que forma a Pedra do Valado indicou uma idade de 17581 ± 56 anos. No entanto, uma única data é insuficiente para limitar a cronologia de um evento geológico. Atendendo à curva de variação do nível médio do mar global, a Pedra do Valado ter-se-á formado no Pleistoceno Superior.
A Pedra do Valado é um recife natural e um hotspot de biodiversidade. Os recifes naturais são classificados como habitats prioritários pela directiva europeia HABITATS e são designados como Área Protegida de Interesse Comunitário.
Foram reportadas um total de 889 espécies, incluindo 703 invertebrados, 111 peixes e 75 algas. Algumas destas espécies possuem estatuto de conservação, como o Hippocampus spp. (cavalos-marinhos) e Epinephelus marginatus(garoupa). Neste recife natural encontram-se vários habitats prioritários de conservação (Convenção OSPAR), incluindo pradarias de ervas marinhas (Cymodocea nodosa), bancos de algas calcárias (mäerl) e jardins de gorgónias.
Foram identificadas 45 espécies não anteriormente reportadas em Portugal e 12 novas espécies até então desconhecidas. Diversas espécies de peixes dependem deste recife rochoso, incluindo cabozes (Gobius xanthocephalus e Parablennius pilicornis), bem como o peixe-negro (Diplodus vulgaris).
A extracção de areia para alimentar as praias, a poluição por efluentes e a má gestão das actividades turísticas podem pôr em perigo este recife natural.

Localidade: Armação de Pêra